30 Aug
30Aug

Nesta crise vivenciada por nós, causada por um vírus invisível que ataca a vida humana, não há como evitar questionamentos mais aprofundados e existencialistas sobre o sentido da vida, tão ameaçada. Assim, recorro ao livro do poeta Carlos Drummond de Andrade na prateleira, Claro Enigma, e sigo para um de meus poemas favoritos, “Perguntas em forma de Cavalo-Marinho”. 

Se as questões são a base da reflexão, como propõe a Filosofia, como não refletir com estas indagações já nas duas primeiras estrofes? 


Que metro serve

para medir-nos?

Que forma é a nossa

E que conteúdo?


Contemos algo?

Somos contidos?

Dão-nos um nome?

Estamos vivos?



Partindo desses versos que expressam os limites humanos, não há como escapar da busca pelo significado maior da palavra limite, de sua dimensão intangível e de suas derivações: limitado e limitante. Sim, essa pandemia limitou-nos externa e internamente. Física e psicologicamente. Limitou-nos ao espaço de casa, limitou-nos do convívio social, do ir e vir. E assim também estão limitados os versos deste poema modernista. As questões da métrica, forma e conteúdo, conceitos matemáticos de conjuntos, vida e identidade, coloca-nos em reflexão.


Muitas são as proposições interrogativas sobre o sentido da vida e a existência. Claro enigma. O jogo de opostos já está presente no título do livro. Da clareza, certeza e exatidão, ao enigma, mistério e incongruência vital. 


Mas seguimos reescrevendo as regras e propondo novas métricas para nossas vidas, não é mesmo? Quando limitados da aproximação, estamos contidos; quando encobertos por máscaras no nariz e boca, perdemos nossa identidade; quando estamos nas redes sociais, sentimo-nos vivos; quando focamos no aspecto higienista, vemos as impurezas que não conseguimos limpar...


As estrofes finais trazem, então, um olhar para o tempo futuro, presente e passado; para a morte e a vida, concluindo com uma conclusão inconclusiva: o grande sentido da vida é justamente a ausência de sentido.

A que aspiramos?

Que possuímos?

Que relembramos?

Onde jazemos?


(Nunca se finda

nem se criara.

Mistério é o tempo,

inigualável.)


E assim como o eu poético, buscamos as respostas formulando perguntas. Buscamos, como enigmas, um sentido para a vida que não existe de forma clara, mas, no claro, vamos formulando conceitos aceitáveis e seguindo com os paradoxos que a vida nos impõe… E o poeta? Registrando seus poemas, deixou-nos tal relíquia, perpetuando sua vida!


                                                                                              



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